domingo, 28 de março de 2010

Índice de Gini

Fonte: CartaCapital - nº 584 - 24/2/2010 - p. 10
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quinta-feira, 25 de março de 2010

Deriva Continental

Falla de San Andrés

Metrópole para poucos

Rodrigo Martins - Revista CartaCapital

Paraisópolis, localizada no rico bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo, é considerada uma favela privilegiada. Boa parte dos seus 80 mil habitantes, segundo o último Censo do IBGE, não precisa enfrentar longos trajetos para chegar ao trabalho. As oportunidades de emprego estão na vizinhança abastada. Ao redor da favela, uma extensa rede de restaurantes, shoppings, salas de cinema, hipermercados, parques, casas de espetáculo.
Os moradores de Paraisópolis, contudo, não se sentem tão privilegiados assim. “Ninguém tem dinheiro para frequentar esses lugares. Quando muito, vai de vez em quando ao cinema. A maioria prefere pagar 1 real pelo DVD pirata e ver um filme por aqui mesmo”, comenta Juliana Oliveira, 24 anos, supervisora de um telecentro da favela e estudante de Gestão Ambiental da Universidade Bandeirantes (Uniban). “Diversão fora da favela é privilégio.”
Nem por isso ela se queixa de morar na segunda maior favela de São Paulo, atrás apenas de Heliópolis, com uma população estimada em 120 mil habitantes. “Aqui temos quase tudo. Supermercados, farmácias, academias de ginástica, pizzarias, bares com música ao vivo, lan house e até um parque de diversões”, comenta Juliana, sorriso orgulhoso. “E tudo isso construído pelos próprios moradores, que criaram pequenos comércios e progrediram. Está vendo aquele supermercado?”, aponta. “Faço as minhas compras do mês ali. É praticamente o mesmo preço de um hipermercado e economizo uns 30 reais que gastaria de táxi para trazer as compras até em casa.”
Paraisópolis exemplifica uma tendência apontada por arquitetos e urbanistas de renome. Em uma cidade agredida pelo trânsito e com escassez de espaços públicos de convivência, a população naturalmente orienta-se para a vida de bairro. “Aquilo que os urbanistas e os políticos não foram capazes de fazer, isto é, uma mistura de residências e escritórios, serviços e verde, os cidadãos construíram sozinhos”, afirma o arquiteto italiano Massimiliano Fuksas, autor, entre outros projetos, do Centro da Paz em Jafa, Israel. “Este espaço (o bairro) foi promovido para abrigar o tempo livre e a cultura de seus habitantes e promovido ao velho e eterno conceito de ‘vilarejo’”, completa Fuksas, em artigo publicado na edição 577 de CartaCapital.
A opinião é compartilhada pelo antropólogo francês Olivier Mongin, que narrou sua experiência ao desbravar São Paulo recentemente, após ser “iniciado” por paulistanos. “Não vi uma Trinidad, uma Kinshasa ou um Cairo em São Paulo. Vi parques, jardins, espaços abandonados, pichações, muros sem publicidade, tive a oportunidade de ir a áreas industriais próximas do centro. São Paulo se faz de bairros múltiplos e variados, nos quais sentimos uma forte autonomia.”
A existência no bairro, contudo, não garante qualidade de vida para a maioria da população. Na cidade que concentra isoladamente 12% do PIB brasileiro, a geografia de oportunidades é extremamente desigual e perversa. O distrito de Moema, que abriga a Vila Nova Conceição, bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo, possui uma renda per capita média de 5,5 mil reais e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,961, ---superior ao de países como Suíça, Dinamarca e Estados Unidos. Mas 90% da população paulistana possui condições de vida consideradas baixas ou muito baixas. É o caso dos moradores do Jardim Helena, na zona leste, região severamente castigada pelas recentes enchentes do rio Tietê. Com uma população de 124,9 mil habitantes, o distrito possui uma renda média de 584 reais e um IDH inferior ao de países como Gabão e Sri Lanka.
Para especialistas, a falta de planejamento urbano e a ausência de espaços públicos de lazer, cultura, educação e esporte agravam o problema. “Poucos bairros concentram a maioria das oportunidades de trabalho. E é em torno deles que também estão concentrados os equipamentos públicos”, afirma o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Polis. “A vivência de bairro é uma experiência muito diferente nas diversas regiões da cidade. Quem mora na periferia e perde de duas a quatro horas se deslocando para o trabalho tende a ficar enclausurado em casa diante da tevê ou entretido em afazeres domésticos. Até porque, para ter acesso às opções gratuitas de lazer e cultura, ele teria de voltar a percorrer longas distâncias. Por vezes, a rua é o único espaço de convivência, mas, mesmo assim, um ambiente precário e sem segurança.”
O Movimento Nossa São Paulo possui um banco de dados que comprova o desequilíbrio de oportunidades. Das 31 subprefeituras da capital paulista, apenas quatro (Sé, Pinheiros, Lapa e Vila Mariana) concentram 50% dos postos de trabalho. Somadas, 14 outras subprefeituras (como Perus e Cidade Tiradentes) possuem apenas 10,6% dos empregos disponíveis na cidade. Não é tudo. Enquanto os bairros de três subprefeituras concentram 44% dos cinemas da cidade, 13 subprefeituras possuem uma participação próxima de zero. Em relação à distribuição dos equipamentos públicos, a discrepância permanece. Treze subprefeituras possuem uma participação inferior a 1% dos equipamentos culturais. Oito não possuem equipamentos esportivos gratuitos.
“Não causa surpresa que 57% da população paulistana demonstre interesse em abandonar a cidade, numa recente pesquisa de satisfação feita pelo Ibope e encomendada por nós”, afirma o empresário Oded Grajew, secretário-executivo do Movimento Nossa São Paulo. “E o pior é que não temos condições de avaliar se o poder público está investindo para reverter essas disparidades. Há três anos, solicitamos à prefeitura o orçamento destinado a cada distrito ou subprefeitura, para avaliar se os investimentos estão de acordo com a necessidade da população. Mas até agora eles não divulgaram isso.”
Os problemas de mobilidade na capital paulista – que registra congestionamentos de até 293 quilômetros e obriga os paulistanos a perder, em média, 2h40 diariamente no deslocamento entre a casa e o trabalho – não apenas explicam a opção de muitos pela vida de bairro como o crescimento caótico e desigual da cidade. O urbanista Cândido Malta Campos Filho, professor da FAU-USP, lembra que a elite paulistana abandonou o centro histórico da cidade justamente quando os congestionamentos na região passaram a comprometer a qualidade de vida dos moradores. “Os ricos e a classe média que viviam por lá começaram a ocupar a área do centro expandido. O eixo de centralidade deslocou-se para a Paulista, e continua mudando. Boa parte das grandes empresas transferiu-se para a avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na região do Brooklin, e essa mudança de centralidade continua em curso”, diz.
O fenômeno veio acompanhado de um efeito perverso: a periferização da cidade. “Normalmente, quando a classe média sai do centro para fugir do trânsito, o centro passa a ser ocupado pelos mais pobres. Foi o que aconteceu em várias cidades americanas, como Houston e São Francisco. Em São Paulo, não”, afirma o urbanista. “Para efeito de especulação imobiliária, os antigos proprietários preferem deixar os imóveis do centro vazios a vendê-los, porque acham que podem ganhar mais quando houver investimentos para a recuperação das áreas degradadas da região. Como consequência, os pobres veem-se obrigados a viver na periferia, muitas vezes em áreas de risco, como encostas de morros, várzeas de rios, áreas de mananciais, em regiões sem infraestrutura de saneamento, onde o poder público tem de fazer tudo a partir do zero.”
Para quem pode fugir do trânsito e vive num bairro bem estruturado, circular- pela cidade e desbravar novos territórios não faz tanta falta. “Antes, eu só saía do Tatuapé para ter acesso a boas opções gastronômicas. Agora, já há bons restaurantes por aqui mesmo. Estão mais raras as minhas andanças por São Paulo”, afirma Anselmo Neves, 44 anos, dono de uma pizzaria e do badalado restaurante Bacalhoeiro, frequentado pelos moradores dos prédios de alto padrão que se multiplicaram pelo bairro na última década. “Demoro cinco minutos para chegar ao trabalho e me viro muito bem por aqui. Consegui realizar o sonho da maioria dos moradores desta região: fugir do trânsito da Radial Leste e da Marginal do Tietê”, comemora Neves, nascido e criado no Tatuapé. Povoado por imigrantes portugueses, italianos, espanhóis e sírios, o bairro cresceu com o progresso dos pequenos comerciantes da região e, recentemente, após a instalação dos shoppings Anália Franco e Metrô Tatuapé, passou a abrigar empreendimentos imobiliários grandiosos, com apartamentos que chegam a custar mais de 4,5 milhões de reais. Vários artistas e jogadores de futebol fixaram residência por lá.
Para a maioria da população, a possibilidade de morar e trabalhar no mesmo bairro não passa de um sonho. “A cidade possui 11 milhões de habitantes, mas na realidade está inserida numa grande malha urbana com mais de 20 milhões de moradores. Dada essa característica, é natural a existência de uma estrutura policentrada, com vários núcleos aparentemente autônomos, com uma rede de serviços locais”, afirma o urbanista Jorge Wilheim, que foi secretário de Planejamento Urbano da cidade na gestão da prefeita Marta Suplicy. “Mas não dá para viver recluso em um único bairro. São poucos os profissionais que podem escolher o local de trabalho. A grande maioria dos assalariados não tem escolha. Trabalha onde há oferta de emprego.”
Wilheim destaca ainda que a maioria dos serviços é oferecida à população pela iniciativa privada, e não pelo poder público, que dispõe de poucos e mal distribuídos equipamentos de lazer, educação e cultura. “Em praticamente todas as regiões de São Paulo, há bares, restaurantes, comércio local e shoppings, agora- -convertidos na praça moderna, onde as pessoas se encontram. Mas isso tudo é regido pela lógica do consumo. Usufrui quem pode pagar. Alguns lugares são inacessíveis para pedestres, só entram carros, como é o caso do Shopping Cidade Jardim, na beira da Marginal do Pinheiros.”
Para o arquiteto Marcos Acayaba, professor do Departamento de Projetos da FAU-USP, a substituição da praça pelo shopping center como ponto de encontro e troca de experiências é mais um sinal da falência de políticas públicas. “Em um parque, o rico e o pobre têm a possibilidade de se encontrar, de trocar experiências, de interagir. O espaço privado seleciona o público pela renda”, afirma. “Mas a convivência entre não iguais é muito mais rica. Não consigo entender a opção do setor imobiliário de investir em lugares exclusivistas, em condomínios fechados em si mesmos, em cidadelas fortificadas que supostamente oferecem tudo ao morador. Quando inauguraram esse empreendimento do Parque Cidade Jardim, muitas pessoas vieram dizer: “Puxa, que legal. Dá para trabalhar, morar e se divertir no mesmo lugar”. E eu pensando: mas qual é a graça de viver numa prisão de luxo?”
O Parque Cidade Jardim abrange um condomínio de nove torres residenciais e três prédios comerciais, incorporado pela imobiliária JHSF. Além do shopping homônimo, está prevista a construção de um spa e de um hotel. O complexo possui os apartamentos mais caros de São Paulo. Uma cobertura de 1,7 mil metros quadrados pode custar 18 milhões de reais. Apesar do preço, não parecem faltar interessados em adquirir unidades com vista privilegiada para o poluído rio Pinheiros. O desconforto da coexistência com uma favela vizinha já foi contornado. A empreiteira ofereceu dinheiro para dezenas de famílias saírem do local. E uma violenta ação de despejo da Polícia Militar, com uso de bombas de efeito moral e tratores, se encarregou de remover uma extensão da favela Real Parque, também próxima do condomínio de luxo.
“A iniciativa privada não está errada em oferecer esse tipo de empreendimento nem de investir na estruturação de bairros para quem possui poder aquisitivo mais elevado”, ressalva Kazuo Nakano, do Instituto Polis. “Mas o poder público precisa entender que a iniciativa privada nem sempre se move de acordo com o interesse público. E é preciso garantir o acesso da população a todos os benefícios que a cidade pode oferecer.” Como exemplo cita Paraisópolis: “A favela está bem localizada, mas a população não tem acesso às opções de cultura e lazer, porque são quase todas pagas. Se eles se voltam para a vida dentro da favela, não é por uma opção, e sim por necessidade”.
A jovem Elizandra Cerqueira, 21 anos, voluntária da associação de moradores de Paraisópolis, confirma a falta de opções de lazer e cultura gratuitos. “Somente no fim de 2008 inauguraram na favela um Centro Educacional Unificado (CEU), que deixa a população usar a piscina, as quadras e o parquinho das crianças”, comenta. “Antes disso, não tinha nada. Só o Playzópolis, a nossa versão modesta do PlayCenter.” O parque de diversões possui roda-gigante, carrinho de bate-bate, barco viking e a popular lanchonete “McDouglas”. O ingresso para cada brinquedo custa 2,5 reais.- “Para quem não é mais criança, a diversão são as rodas de samba e as casas de forró. Vem gente até de outros bairros. E o preço cabe no bolso”, comenta.
Outros bairros, como o Jardim Pantanal, no distrito Jardim Helena, zona leste, possuem menos opções. “Para ir ao cinema, temos de ir até o shopping Itaquera ou Tatuapé, nenhum deles a menos de 50 minutos daqui. Quase ninguém vai, porque o ingresso é caro e também tem o custo da condução. Os que não estão desempregados trabalham longe. Demoram duas, três horas para chegar ao trabalho. Quando voltam para casa, estão esgotados. Ficam na frente da tevê”, comenta o líder comunitário Ronaldo Delfino de Souza, do Movimento pela Urbanização e Legalização do Pantanal (Mulp). “No fim de semana, algumas entidades privadas, como o Instituto Alana, oferecem opções de lazer e cultura, mas é pouco diante da demanda. Quem se anima a sair de casa tem dois destinos certos: o bar ou a igreja.”
O Pantanal é um dos bairros mais atingidos pelas inundações do rio Tietê. Desde 8 de dezembro, quando uma enchente castigou diversos bairros da região, muitas ruas- continuam alagadas e os moradores sofrem com a ameaça de despejo iminente. “Uma das raras opções de lazer oferecidas pelo poder público por aqui é o CEU Três Pontes, no Jardim Romano. Mas mesmo isso nós perdemos. A escola continua ilhada pelas inundações”, emenda Souza.
“Para quem não mora em bairros abastados ou em condomínios de luxo, fechados em si mesmos, a solução é a mobilidade plena”, defende a urbanista Raquel Rolnik, professora da USP e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada. “É natural que as pessoas tentem se proteger nos bairros em que vivem, especialmente se para chegar ao local de trabalho ou estudo elas perdem muitas horas paradas no trânsito. Mas a riqueza da vida urbana está na heterogeneidade, nas possibilidades de convivência e trocas culturais entre diferentes grupos sociais, com diferentes estilos de vida e modos de pensar.”
Para a urbanista, o risco de uma aposta irrefletida na vivência de bairros autônomos ou fechados em si mesmos é o de se construir uma cidade repleta de guetos, na qual um grupo não dialoga com o outro. “O setor imobiliário reforça essa concepção, criando espaços na cidade inacessíveis a quem não tenha título de propriedade ou não possa pagar. Mas eu percebo que boa parte da população está caminhando na direção contrária. Ela está sempre presente nos poucos parques que a cidade tem, comparece em massa quando há eventos culturais, está ocupando as calçadas da cidade, nem que seja dentro de uma lógica de consumo, tomar uma cerveja com os amigos”, diz Rolnik. “A Vila Madalena era um bairro de convivência local, hoje é um point. A região da Augusta, antes esquecida e degradada, está atraindo jovens de todos os cantos da cidade e até mesmo de outras regiões do país. Seria muito pobre se a população não pudesse ter acesso a essa diversidade.”
É consenso entre os especialistas que a única forma de livrar São Paulo do afogadiço e garantir cidadania plena aos seus habitantes é investir maciçamente em transporte coletivo, para garantir a mobilidade da população, e distribuir de maneira mais equânime os equipamentos públicos de lazer, educação e cultura, bem como a infraestrutura de saneamento básico.
Os gestores públicos conhecem bem a fórmula e repetem o discurso dos especialistas como um mantra. Mas a realidade ainda parece muito distante das promessas. “Não discuto a necessidade de obras como a Ponte Estaiada e a duplicação da Marginal do Tietê. O que eu me pergunto é se não valeria mais a pena pegar esses bilhões e investir na ampliação do Metrô, que cresce a passos de tartaruga”, diz Oded Grajew, do Movimento Nossa São Paulo. “Se todos concordam que é preciso investir em transporte coletivo, para garantir mobilidade, por que damos mais espaço para carros particulares circularem? Se há consenso de que é necessário descentralizar os investimentos, para garantir uma cidade mais justa e equilibrada, por que não vemos obras na periferia com a mesma intensidade e frequência que o centro expandido? Parece muito difícil mudar essa lógica. A periferia não financia campanhas políticas. E os governos têm de satisfazer os interesses de quem os financia.”
Fonte: CartaCapital – 28/01/10 – disponível em http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=5880 – acessado em 30/01/10.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Capitalismo e revoluções das novas tecnologias

Capitalismo e revoluções das novas tecnologias

Fernanda Machado* Especial para a Página 3 - Pedagogia & Comunicação

O capitalismo industrial é uma nova fase desse sistema econômico, que surge em meio a um processo de revoluções políticas e tecnológicas, na segunda metade do século 18. Com essa nova fase é superado o capitalismo comercial, também chamado de mercantilismo, que surgiu em fins do século 14 e vigorou até então. Muitos fatores econômicos, sociais e políticos contribuíram para o desenvolvimento dessa nova forma de capitalismo.
Na economia, o grande impacto foi trazido pelas transformações nas técnicas e no modo de produção. As máquinas passaram a ser utilizadas em larga escala, tornando ultrapassados os métodos de produção anteriores, de caráter artesanal. Esse processo ficou conhecido como Revolução Industrial e teve seu início na Inglaterra.
Tanto do ponto de vista da economia, quanto da política, outra transformação importante foi a independência dos Estados Unidos, a chamada Revolução Americana, de 1776. Ela constituiu o primeiro grande abalo numa das bases do mercantilismo, o sistema colonial, em que as colônias americanas, africanas ou asiáticas se mantinham submissas aos interesses das metrópoles européias.

A nobreza e o clero
Finalmente, a terceira transformação radical foi a Revolução Francesa de 1789. Essa Revolução pretendeu a derrubada do Antigo Regime, constituído em torno de monarquias absolutas, em que o poder dos nobres e da Igreja prevalecia sobre os outros grupos sociais.
Tantas revoluções, quase simultâneas, deixam claro que essa velha ordem não podia mais se manter. A sociedade baseada no absolutismo e no mercantilismo oferecia privilégios aos nobres e ao clero, mas concedia poucos direitos ao povo. "Povo", naquela época, significava tanto os burgueses ricos, mas sem direitos políticos, como o mais miserável dos trabalhadores. Assim, diferentemente dos nossos dias, a expressão "povo", até meados do século 19, abrangia todos aqueles que não tinham sangue nobre, nem pertenciam à Igreja.

Os burgos e a burguesia
Essas lutas e transformações que ocorriam no mundo ocidental passaram por duas fases. Num primeiro momento, tanto pobres quanto ricos queriam acabar com os privilégios da nobreza e do clero. Mas, no decorrer das lutas, os ricos souberam se beneficiar do processo, para garantir seu direito à propriedade. Isso quer dizer que a nova fase do capitalismo pode ser interpretada como a ascensão da burguesia, que se transformou na classe social mais poderosa a partir de então.
Mas quem são esses burgueses, afinal? Esse nome vem da palavra burgo. No período final da Idade Média, os burgos eram vilas, locais situados fora dos feudos, onde grupos de comerciantes e negociantes moravam e realizavam suas atividades. Assim, os burgueses passaram a ser identificados com os indivíduos que praticavam o comércio e ganhavam dinheiro. Em decorrência disso, com o desenvolvimento do capitalismo Industrial, a expressão "burguesia" passou a designar a classe dos ricos proprietários de indústrias e dos grandes negociantes.
Isso tudo indica que, a partir do século 18, a maior fonte de riqueza era a propriedade dos meios de produção (fábricas e equipamentos) pelos capitalistas (aqueles que têm o capital, ou seja, o dinheiro para adquirir esses meios). Já a maior parte das outras pessoas da sociedade, que não tinham esses recursos, viam-se forçados a se empregar nas fábricas, vendendo seu trabalho em troca de um salário. Através do trabalho, os operários (também chamados de proletários) geram riqueza para os capitalistas. Estes, além de cobrir seus custos com a produção, também conseguem obter lucros.

Adam Smith e o liberalismo
O funcionamento da economia industrial baseava-se em idéias que constituíram um sistema filosófico chamado de liberalismo. Essas idéias surgiram juntamente com a Revolução Industrial, no final do século 18. Na economia, um dos principais teóricos do liberalismo foi Adam Smith, que defendia a não intervenção do Estado na economia (tal como acontecera no Mercantilismo).
Segundo Smith, o jogo econômico era regido pela lei da oferta e da procura. Dentro dessa lógica, ninguém - particularmente o Estado - deve interferir no mercado, onde vigora uma competição, em que os mais capazes obterão melhores resultados.

A primeira Revolução Industrial
Esse modelo de capitalismo começou a se desenvolver a partir de 1760, quando a Inglaterra viveu a primeira Revolução Industrial. O que marca essa fase é a invenção do tear mecânico e da máquina a vapor, o uso de carvão e do ferro. Essas são características da indústria têxtil, que empregou os camponeses, forçados a deixar o campo pela falta de trabalho. Desde então, eles passaram a compor a população das grandes cidades.
A partir de 1860, outros países investiram também na formação de suas indústrias, numa fase que é denominada de segunda Revolução Industrial. Assim, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Estados Unidos e Japão iriam, até o começo do século 20, aplicar grandes capitais na produção de aço, energia elétrica e produtos químicos.
Durante essa fase, também, o capitalismo industrial se transformou em capitalismo financeiro, quando empresas e bancos se uniram, para obterem maiores lucros. Isso gerou a formação de grandes empresas multinacionais (que funcionam em várias nações ao mesmo tempo). Muito ricas e poderosas, elas impunham normas de produção e definiam os preços de seus produtos no mercado.

O sistema capitalista no século 20
No entanto, o capitalismo industrial e financeiro passou por várias transformações e desafios no decorrer do século 20. Primeiramente, com a Revolução Russa de 1917, que se propôs a construir uma sociedade comunista, ameaçando a ordem burguesa mundial. O risco de o comunismo se espalhar pelo mundo, acabou por dividi-lo em dois blocos econômicos, um capitalista e outro comunista, entre os anos de 1945 e 1989, no período denominado de Guerra Fria.
Além disso, o capitalismo enfrentou crises internas, inerentes ao próprio funcionamento do sistema.. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-18), os Estados Unidos emergiram como potência industrial e passaram a produzir mercadorias para uma Europa devastada pelo conflito. No entanto, com o passar dos anos, a produção norte-americana tornou-se maior do que a necessidade de consumo, o que gerou a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.
Esse fato acarretou uma revisão do modelo capitalista liberal, a partir da qual passou-se a considerar a necessidade de o Estado também intervir na economia para evitar ou controlar crises. A livre iniciativa e a propriedade privada não foram questionadas, mas o governo passou a intervir na definição dos preços dos produtos, a conceder empréstimos a produtores e a procurar gerar empregos, através da realização de obras públicas e da recuperação das indústrias privadas.
Por fim, a partir da década de 1970, o capitalismo financeiro passou por uma nova fase, chamada por alguns economistas de terceira Revolução Industrial. Essa fase decorre da Era da Informática, ou seja, do desenvolvimento dos microcomputadores e da ampliação crescente da oferta de informação, que deu um salto com a popularização da Internet, nos anos de 1990. A partir de então, com a queda do regime comunista soviético em 1989, estabeleceu-se a chamada Nova Ordem Mundial, cujas principais características são a globalização e o neoliberalismo.

*Fernanda Machado é historiadora.
Fonte: Uol Educação
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u13.jhtm

quinta-feira, 4 de março de 2010

Os mitos e fatos da mudança climática



Não deixe de ver as outras partes.

Esquerda e direita

Esquerda e direita


Artigo de ARIANO SUASSUNA, escritor paraibano, autor de "O Auto da Compadecida"

Publicado na Folha de São Paulo de 14 de setembro de 1999

Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita.
Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila.
Como conseqüência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande "assembléia geral" da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.
De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos "Atos dos Apóstolos", com o de Euclydes da Cunha em "Os Sertões". Escreve o primeiro: "Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade". Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: "A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia" (isto é, para a comunidade).
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.

Bibliografia complementar: Clima

http://www.cpa.unicamp.br/ CEPAGRI - Unicamp, Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura.

http://www.cptec.inpe.br/ CPETEC, Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (INPE).

http://www4.climatempo.com.br/ct/index.php Climatempo, empresa de meteorologia.

http://www.inmet.gov.br/ INMET, Instituto Nacional de Meteorologia

http://www.ipmet.unesp.br/ IPMET, Instituto de Pesquisas Meteorológicas - UNESP-SP.

http://www.brcactaceae.org/clima.html#volta Climas que ocorrem no Brasil, uma caracterização geral, com mapas bem resolvidos.